segunda-feira, maio 14, 2007

Entre a cruz e a espada

Dante Baptista

Nenhum outro enigma vai ditar o rumo do Campeonato Brasileiro como Muricy Ramalho.

É simples: ele tem um dos melhores plantéis do Brasil (senão o melhor) em mãos, mas não fez um bom começo de ano. Foi eliminado da Libertadores ainda nas oitavas-de-final e nas semi-finais do Paulistão.

Ser eliminado do Paulistão até passa (isso na visão de torcida e dirigentes), mas a Libertadores... Sair prematuramente da competição custa caro ao São Paulo, em termos de bilheteria, direitos de imagem, valorização dos atletas e, principalmente, a imagem do clube.

Por isso, logo na reapresentação, o São Paulo passou a operar sob intervenção do presidente Juvenal Juvêncio.

E intervenção significou aquilo que Muricy mais odeia: pitacos sobre a escalação do time. Leandro sequer foi relacionado, Aloísio foi cortado e reconvocado, mas ficou no banco, junto com Richarlyson, Souza e Jadilson. Dagoberto e Jorge Wagner foram titulares.

Inclusive, os dois gols sairam graças aos dois novos titulares. Jorge Wagner fez um golaço e Dagoberto sofreu o pênalti que Rogério marcou. Ou seja, 'vitória' do presidente.

Para ilustrar como a decisão sobre a escalação foi de 'ordens superiores', Borges e Hernanes, titulares na estréia do Brasileirão, sequer ficaram no banco contra o Grêmio.

O que tudo isso quer dizer?

Muricy não é unanimidade, e atualmente passa longe disso. A torcida já perdeu a paciência, alguns diretores também. Ou seja, o treinador trabalha agora sob constante pressão. Clima totalmente diferente da paz de 2006.

A pressão, que se refletiu na atitude e declarações de Juvenal, é ainda maior na medida que Paulo Autuori, campeão da Libertadores e do Mundial com o São Paulo e visto como modelo de educação e elegância pelos cardeais tricolores, está desempregado. Contribui para o lobby pró-Autuori as famosas patadas que Muricy dá nos jornalistas, ao melhor estilo Emerson Leão.

E, para apimentar o clima de tensão, o São Paulo pega o Palmeiras pela terceira rodada do campeonato, no Morumbi. O jogo será o reencontro dos torcedores com o time depois da eliminação na Libertadores.

Por tudo isso, dizer que Muricy balança no cargo não é exagero. O rumo do campeonato será definido assim que essas questões forem respondidas.

O caso de Muricy mostra como tudo no futebol é rápido e efêmero. Até fevereiro, era o melhor do Brasil, sem contestações. Com o tempo, passoua ser, 'apesar do Muricy, o São Paulo vence'. Com as eliminações, Muricy é alvo da execração pública.

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